Quando Orson Welles narrou uma invasão alienígena em 1938, “A Guerra dos Mundos”, a população americana entrou em pânico, acreditando que o apocalipse havia começado. O que era apenas uma ficção ganhou contornos de realidade graças ao poder de uma voz convincente. De forma semelhante, a lenda da loira fantasma, uma história popular curitibana surgida nos anos 70, causa arrepios em motoristas até hoje. E enquanto o mito assombrava as ruas e o imaginário coletivo, é impossível ignorar o impacto involuntário que ele teve nas verdadeiras loiras de Curitiba, que enfrentaram olhares desconfiados e brincadeiras de gosto duvidoso por conta dessa fama espectral.
Em maio de 1975, numa noite fria e chuvosa em Curitiba, um taxista vivenciou um dos casos mais misteriosos da crônica policial local. Ao atender uma passageira loira, elegante e enigmática, ele a leva em direção ao Cemitério do Abranches, mas, ao olhar para trás, percebe que ela desapareceu. Intrigado, tenta retornar ao centro, mas a mulher reaparece, violenta, e tenta estrangulá-lo. Desesperado, ele busca ajuda da polícia, que decide, com a ajuda de um garçom no volante do táxi, refazer o trajeto para solucionar o enigma. Durante a perseguição, a loira reaparece, atacando o motorista com um punhal. Os policiais intervêm, disparando contra ela, mas, para espanto geral, após levar dois tiros fatais, a mulher desaparece novamente, deixando todos perplexos.
A ocorrência atraiu dezenas de viaturas policiais, jornalistas e curiosos ao cemitério, transformando o local em um espetáculo público. Apesar dos testemunhos e da intensa cobertura, o mistério da mulher que sumiu sem deixar vestígios permanece inexplicado, ganhando fama internacional e consolidando-se como um dos relatos mais fascinantes do imaginário curitibano.
E, teorias à parte, a lenda da loira fantasma se espalhou pelo país (e fora dele!), alimentando debates e intrigas. Até os jornalistas mais céticos não resistiram à curiosidade: o que realmente aconteceu em 1975? Teria sido um evento sobrenatural ou apenas a imaginação coletiva em ação? O ano de 1975 já carregava seu peso — e, meses depois do suposto ataque, Curitiba foi palco de outro acontecimento marcante: uma frente fria histórica trouxe uma nevasca à cidade, como se o clima também quisesse guardar um mistério no ar.
Tarás Schner foi um dos jornalistas que acompanhou em primeira mão o ocorrido, escrevendo dois artigos sobre o caso. Ele compartilhou a história com seu filho, Carlos: “Eu visitei meu pai que estava acamado, na época com 72 anos, isso foi no sábado, dia primeiro de novembro de 2008, peguei uma caixa com várias fotos dele ou de pessoas que ele entrevistou, peguei uma por uma dessas fotos e perguntei o que eram essas pessoas e qual a história por trás daquela foto, ele me contou tudo o que lembrava destas fotos, inclusive essa história da loira fantasma. Foi um momento muito legal com meu pai, nunca esquecerei, dois dias depois ele faleceu!”.
Neste caso, a banda Macumbazilla brilha (ou, provoca arrepios!) com sua faixa “Blondie Phantom”. Inspirada pela lendária loira fantasma de Curitiba, a música se transforma em uma ode metal ao mistério, ao terror e ao folclore urbano brasileiro. Aproveitando a simbologia da próxima sexta-feira 13, nada mais adequado do que revisitar essa obra da banda curitibana, que une riffs brutais a uma narrativa envolvente. O tom das teclas, no início, traz uma atmosfera lúgubre e cinematográfica; visualizamos mentalmente a chegada dessa mulher ameaçadora.
Sim. Desde os primeiros acordes, “Blondie Phantom” te puxa para um universo fílmico de terror. Os riffs são densos e cortantes, remetendo ao peso de bandas como Pantera, mas com uma assinatura própria que é marca registrada deste trio rock and roll curitibano. A bateria pulsa como um coração acelerado em meio ao pavor, sob o comando de Júlio Goss, enquanto os vocais de André Nisgoski oscilam entre o desespero e o desafio. É como se cada nota fosse um grito na escuridão, uma homenagem à tensão que a lenda desperta. A sonoridade de gelar a espinha! E o baixo de Carlos “Piu" Schner se entrelaça e dá à base sonora todo o peso do contexto ‘loira fantasma’.
O chamado da loira
Sexta-feira 13 é uma data muito temida, considerada do azar e do terror. Curitiba, então, já tem sua mascote perfeita: a loira fantasma! E, por que não, uma trilha sonora perfeita? Com “Blondie Phantom” Macumbazilla redefine esse mito, entregando a música para os corajosos que se aventuram a dirigir sozinhos nas noites sombrias da capital. O que poderia ser mais apropriado do que ouvir este som enquanto você encara uma neblina típica do sul ou cruza as ruas vazias em direção ao desconhecido? Uma conexão e tanto, diria!
Agora, entre o real e o fantástico, o que vale e é grande mérito da banda, é trazer um toque humano ao sobrenatural. “Blondie Phantom” não é apenas sobre uma lenda, mas também sobre o que ela representa: nossos medos coletivos, as histórias que contamos para explicar o inexplicável, e talvez até uma crítica ao voyeurismo e julgamento que cercam figuras femininas na cultura popular. É uma faixa que, como a própria lenda, se recusa a ser esquecida.
No dia 13 de dezembro, que tal fazer de “Blondie Phantom” o hino da sua sexta-feira 13? A música é intensa, teatral e irresistivelmente sombria, assim como a própria loira fantasma. E enquanto a lenda continua a fazer motoristas olharem pelo retrovisor com um pouco mais de atenção, o trio Macumbazilla segue pavimentando sua estrada no cenário do metal nacional com faixas que são verdadeiros assombros musicais. Cuidado ao dirigir sozinho!
Seja pela lenda, pela música ou pelo terror, a experiência vale cada segundo.
E aproveitando que já estamos em dezembro, para quem deseja se despedir de 2024 com rock e energia: Macumbazilla no Lado B, 21/12, entrada grátis!
Além de “Blondie Phantom”, você pode ouvir o disco completo da banda Macumbazilla, basta dar o play!
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