ESTÁ CADA VEZ MAIS CARO COMER: A (NÃO) AÇÃO DO ESTADO E A URGÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO POPULAR.

Prof. Rodrigo Gomes de Santana

A alta nos preços dos alimentos é sem dúvida o principal problema que angustia o trabalhador, o modo de produzir adotado pelo agronegócio nacional e chancelado pelo “mercado” se mostra cruel ao povo. O modo capitalista de produção, neste caso apresentado pelo agronegócio, possui a clara intenção de acumular capital por meio da constituição da terra como objeto de negócio, no entanto a terra não é capital, apenas opera como se fosse.

Aprendi com José de Souza Martins que “[...] o capital é produto do trabalho assalariado. Já a terra não é produto, nem do trabalho assalariado nem de nenhuma outra forma de trabalho. É um bem natural, finito, que não pode ser reproduzido, não pode ser criado pelo trabalho”. (1981, p. 159).

O respeito à terra deve ser pautado no campesinato como modo de produção eficaz, capaz de reproduzir o modo de vida da família camponesa, de fornecer alimentos com preço justo, de se colocar como protagonista no combate a fome produzindo alimentos com qualidade.

Além de todo o contexto histórico-social do Brasil tendo o latifúndio como um dos principais elementos caracterizadores da desigualdade social por meio da concentração de terra e de renda, o país sofreu o golpe de ter em seu comando um governo bancado pelas elites financeiras e midiáticas na forma mais cruel possível, com base na necropolítica e no apreço ao extermínio do trabalhador. Em consequência do projeto do governo atual o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas e pelo cenário desenhado teremos tempos tenebrosos para cada trabalhador do país.

Faz-se necessário a construção de um projeto popular para o Brasil, baseado nas necessidades do trabalhador, abraçado com os movimentos sociais. As crises econômica, política, social, necessitam que o Estado atue no sentido de conter os efeitos do desastre. Na perspectiva do modus operandi  do governo atual, a atuação do Estado para conter a crise só existe a partir da luta social organizada, pautada na construção da consciência de classe edificada na base, tendo o combate a fome como elemento urgente.

Thomas Malthus acreditava que a população crescia em progressão geométrica enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética, por conta disso teríamos uma escassez na oferta de alimentos. Malthus estava errado, a fome não é produto do crescimento demográfico, ela é fruto do modo de produção capitalista que concentra riqueza, promove desigualdade e tem na acumulação de capital o princípio da destruição da sociedade.

A propósito... Thomas Malthus foi filho de latifundiário!

 

Referências

MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil. Petrópolis. Vozes. 1981.

ENGELMANN, Iris Pacheco e Solange. Fome: a chaga histórica reabre e atinge sempre os pés descalços. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. 2021. Disponível em: < https://mst.org.br/2021/02/15/fome-a-chaga-historica-se-reabre-e-atinge-sempre-os-pes-descalcos/ > Acesso em: fev. 2021.