Izaque Vieira é ativista, músico e professor, membro da academia literária do amplo sertão Sergipano, e baterista da banda Sertão Roots, Izaque trocou uma idéia com a Bacurau, e falou um pouco sobre a cena reggae sergipana que vocês curtem a seguir.



Bacurau: Izaque, como é a cena reggae Sergipana?

Izaque - A cena reggae em Sergipe e algo que está se desenvolvendo de forma lenta devido principalmente a poucos eventos que acontecem, a escassez de políticas públicas que beneficiem verdadeiramente as bandas também e outro fator que acaba prejudicando, paralelamente a isso existem alguns guerreiros a exemplo de Pedro Neto, organizador da Expo AFRO que vem buscando movimentar a cena promovendo a interação entre as bandas com objetivo de fazer uma verdadeira reflexão em prol da união, buscando assim fazer com que esses personagens se autovalorizem para assim fortalecer a cena local.

Bacurau: A Sertão Roots tem excelentes composições, faz em nossa analise, uma mescla bem harmoniosa entre o roots, e o pop reggae, como se dá o processo de composição, você compõe só ou é uma construção conjunta com todos os membros da banda?

Izaque - Que alegria e satisfação para nós estarmos aqui com vocês para falar um pouco sobre o que pensamos!

Somos o Primeiro Projeto de Reggae do Alto Sertão Sergipano e estamos a quase uma década nessa caminhada, sendo que o Projeto Sertão Roots sempre foi um projeto alicerçado a grandes parcerias onde diversos amigos contribuem de diversas formas, e que essas contribuições vão da criação dos arranjos musicais pelos músicos até a criação de letras das belíssimas canções lançadas e outras que estão em desenvolvimento no estúdio, estamos atualmente contando com composições realizadas através de parcerias por Ivaldo Moreno (Vocalista da Banda), Val Valença (Músico e Escritor), Junior Moziah (Banda Reação), Izaque (Baterista da Sertão), Odair Medeiros (Poeta). Sendo que toda a obra passa pela supervisão do nosso Tecladista Babau Blues proprietário do estúdio Blues, que está produzindo nosso Cd.

Bacurau: O reggae em seu começo no Brasil possuía um tom bem jamaicano, hoje o reggae  Brasileiro é bem distinto dessa influência jamaicana (apesar de ser bem forte ainda) ou seja, temos um reggae bem característico do Brasil que se adapta a seus regionalismos e influências locais, como vê essa mudança ao longo dos anos?

Izaque - No campo da arte é muito comum essas adaptações ocorrerem principalmente na música, e especificamente na música reggae, essas transformações acontecem fortemente, através dessa questão temos grandes artistas, grandes bandas que desenvolvem seus trabalhos fazendo a mesclagem do regionalismo com muito estilo sem perder a influência maior do Reggae Music.

Para termos uma ideia dessa questão, basta ouvirmos alguns trabalhos de bandas de diferentes estados, e através das melodias, sonoridades percebemos essas diferenciações que de certa forma cria uma identidade individual de cada Projeto. Se a gente parar para ouvir o som da Sertão e ouvir o som da Banda Sossego em Jah por exemplo, veremos essas variações por se tratar de uma banda do interior, do sertão e uma banda da capital Aracaju, cada banda possui sua proposta. Eu acredito muito que as mudanças acontecem a partir dessas individualidades geradas pela questão do tempo e também do regionalismo.

Quando tratamos do fator “tempo” percebemos essa mudança que ocorre até dentro dos próprios projetos individualmente falando, e um forte exemplo disso temos a Banda Cidade Negra do Rio de Janeiro, que em meados da década de 80 desenvolvia um trabalho de reggae raiz com letras que retratavam os problemas sociais, mas que já no início dos anos 90 começou a desenvolver um reggae mais pop gerando muita discussão, enfim essa é uma questão bem complexa que pode até dividir opiniões e essa é a nossa. 

Bacurau: Algumas bandas de reggae fazem a opção de tocar músicas mais populares ou românticas visando o mercado, e tentando com isso tocar em eventos mistos como em festivais e eventos in door, dividindo palco como grupos de sertanejo, pagode e etc. Qual sua opinião sobre isso?

Essa também é outra questão muito polêmica rsss... Mas vou colocar minha opinião:

Infelizmente o reggae sofre muito preconceito por se tratar unicamente de um ritmo que mostra principalmente as mazelas da sociedade e que por se tratar de algo assim somos descriminados, excluídos dos eventos, excluídos de certa forma da média. Essa falta de valorização atinge diretamente os artistas que para se manterem financeiramente devem exercer outras atividades profissionais e até tocar outros estilos para assim garantir o pão de cada dia.

A escassez de eventos, a falta de políticas públicas que possibilitem a manutenção de grandes projetos acabam fazendo com que alguns venham tentar se adaptarem ao mercado de consumo mudando os estilo das letras para assim “entrar na mídia” e “ganhar dinheiro” mesmo que tenha que mudar a identidade musical. Não temos nada contra a quem faz isso, porém, somos de uma linha raiz que ainda acredita no amor pela música e que dá sim para resistir fazendo aquilo que a gente acredita, mesmo sendo muitas vezes excluídos pela própria mídia, pois o importante mesmo e buscar soluções para manter o projeto vivo sempre através de boas parcerias.

Bacurau: A pandemia atingiu vários setores da cadeia artística, e com isso as lives vieram pra ficar, a Sertão Roots planeja fazer eventos on line?

Izaque - Com certeza!! Essa pandemia teve o lado muito negativo, mas também serviu para mostrar que podemos se reinventar e através de plataformas virtuais continuar propagando nosso trabalho. Num primeiro momento principalmente por falta de recursos estamos focados em gravar músicas e dar continuidade ao processo de gravação do nosso CD para em seguida realizar uma Live fazendo lançamento do Cd. Paralelo a isso pretendemos participar dos dois únicos eventos no Sertão que são o Rock Sertão e Rock no Coreto (ambos em N.S. da Gloria) e também no evento denominado de Expo Afro que acontece em Aracaju.

Bacurau: Quais são os projetos da Sertão Roots para o pós pandemia?

Izaque - Pretendemos voltar a rotina de shows e gravar alguns Clipes e principalmente lançar um DVD.