O cantor, compositor e violonista baiano Jorge Papapá é um dos mais consegrados compositores baianos, suas músicas estão eternizadas nas vozes de grandes artistas brasileiros, pioneiro no ativismo artistico foi um dos fundadores da Associação dos Músicos Profissionais da Bahia, sua primeira experiência como Radialista se deu 1987 quando dirigiu e apresentou o programa “Coração Rastafári”, já em Alagoas conduziu por 6 anos na Rádio Delmiro FM 89,9 o programa Balaio, onde além de entretenimento era voltado para a divulgação cultural dos artistas do alto sertão nordestino, a Bacurau Jorge concedeu essa entrevista que vocês conferem a seguir.
Bacurau: Jorge, você tem mais de 40 anos na música, é um dos mais
proeminentes compositores na cena nacional, inclusive muitas delas sucesso nas
vozes de artistas consagrados, a internet e o advento dos aplicativos e sites
de streaming musical, tiraram o monopólio das grandes gravadoras fazendo com
que os artistas tenham mais controle sobre seu conteúdo nas redes, como você vê
a questão sobre os direitos autorais na música nesses tempos do faça você
mesmo?
Papapá - Eu acho muito bom
que seja assim! O artista nunca teve o controle das suas obras e sempre dividiu
o lucro com as gravadoras e editoras. Hoje se descobriu que o artista pode ter
sua própria editora e que não é preciso desembolsar os 25% que as editoras
cobram pra administrar as suas obras. As plataformas digitais chegaram para
para facilitar a vida dos artistas, sobretudo os emergentes que não tinham como
veicular seus trabalhos.
Bacurau: A lei Aldir Blanc
foi um avanço, apesar do ministro da economia e o próprio presidente serem
contrários, na sua opinião qual é o legado que deixa essa lei para a cultura
Brasileira de uma forma geral?
Papapá - A criação da lei
Aldir Blanc foi importante para garantir uma renda emergencial para os
trabalhadores da cultura e também da manutenção dos espaços culturais perante o
estrago causado pela pandemia do Covid-19. Os artistas de um modo geral
sofreram uma baixa incalculável em função da pandemia. E era preciso se criar
uma maneira de suprir as necessidades da categoria. Essa lei não resolve, mas
minimiza o estrago. Embora eu continue achando que o poder público deveria
cuidar melhor dos seus artistas como patrimônio artístico da cidade.
Bacurau: O prefeito reeleito Luiz de Deus reconduziu o secretário
de Cultura Jânio Soares, apesar do desgaste e dos quase 30 anos dele a frente
da pasta, mas interlocutores disseram em campanha que a secretária em uma
recondução da gestão sofreria mudanças, na sua opinião qual é a mensagem que o
atual governo municipal quer passar para a categoria artística?
Papapá - Sinto que existe
alguma "amarra" do prefeito com a pasta da cultura! Não posso
entender como esse secretário é mantido sem dar o mínimo suporte aos
trabalhadores de cultura da cidade. Os artistas precisam também entender que
podem e devem intervir nesse processo e fazer valer a força da categoria. Por
outro lado
é necessário que a classe
política da cidade tenha participação nessa mudança e esteja junto a classe
artística buscando equalizar essa conduta. Comunidade artística, população e
classe política precisam caminhar juntos na busca de melhores condições de
trabalho.
Bacurau: O axé e o pagode são gêneros que aos poucos estão sendo
tragados pelo estilo “pisadinha” e Sertanejo universitário, e há na grande
mídia um processo de uniformização da música de massa, como você vê esse
movimento?
Realmente eu não sinto que devo
ser contrário ao que está acontecendo. Sou favorável a todos os estilos de
música, assim como gosto das várias áreas da arte. Nunca ouvi o que não quis
ouvir. Papapá - Sempre ouço aquilo que seleciono pra ouvir. Portanto
nunca segui os modismos do momento e acho que as pessoas deveriam escolher o
que ouvir assim como escolhe frutas na feira. Se ligo o rádio e está tocando o
que não gosto eu mudo de estação. E se eu não encontrar o meu gosto nas outras
estações eu desligo o rádio.
Bacurau: Por 6 anos você esteve à frente do programa Balaio na
rádio Delmiro FM 89,9 em Alagoas, e atualmente na rádio Angiquinho FM 98,5 sede
também no estado de alagoas, como foi fazer um programa tão pioneiro no alto
sertão Brasileiro, uma vez que ambas as rádios tem amplitude em BA/SE/PE/AL
Papapá - O Balaio foi uma
ideia que tivemos, eu e o Giuliano Ribeiro de um programa de rádio onde
pudéssemos divulgar artistas, ideias e movimentos artísticos. Foi muito
gratificante fazer o Balaio, conhecer novos artistas, personalidades e pessoas
de vários naipes. O Balaio funcionou durante seis anos nas rádios Delmiro e
cerca de um ano na rádio Angiquinho. Agradeço muito a população das cidades
onde o Balaio alcançou e sinto muitas saudades de poder estar novamente
sintonizado com essa gente. Por outro
lado, sei que tudo passa assim como as uvas "passas".
Bacurau: A pandemia da covid-19, abalou muito a cadeia produtiva da
cultura, e mostrou a fragilidade e a realidade em que vive muitos artistas
Brasil a fora, você como musico profissional, acredita que muitos artistas
agora vão se preocupar mais com a parte empreendedora e financeira de suas
carreiras?
Papapá - Acredito que o
artista que sabe cuidar da sua carreira deve buscar sempre outras maneiras de
veicular suas obras. Sei que a pandemia restringiu muito as possibilidades, mas
ao mesmo tempo abriu outras portas. Independente de pandemia e de outras
dificuldades o artista deve estar cuidando, lapidando e veiculando sua obra de
alguma forma.