Carolina Alexandra ou Xandra diáfana, é uma artista versátil, nascida em uma familia de grandes artistas pauloafonsinos, se destaca em varias expressôes que vão das artes cênicas a música, nessa entrevista ela fala um pouco de seu trabalho como atriz e cantora.
Bacurau: Carolina, você é filha da uma grande atriz e diretora teatral pauloafonsina Dolores Moreira e do ator e coreografo Edilson Vieira, ter nascido em um lar onde se vive o teatro influenciou na sua escolha pelas artes cênicas?
Carolina: Com certeza. Ter nascido numa família de artistas tão empenhados e talentosos me fez sim ser a artista que sou hoje, pois, me lembro que quando criança também quis ser cientista, mas, ao assistir os ensaios percebia que atuar também é uma ciência e acabei me desenvolvendo por este caminho.
Bacurau: Você tem se mostrado uma multiartista, se destacando também na música, participou do grupo de forró pé de serra Dona Florinda, e do projeto musical gaiola viajante, como tem sido essa experiência como cantora e compositora?
Carolina: Cantar e compor também eram coisas que me faziam sonhar e me expressar quando criança. Hoje, vejo a música como uma arte de poder universal, pensando na questão física do som, entendendo que a vibração das palavras, das notas, etc. influenciam no sentido que quero despertar no público. Cheguei a este entendimento depois de tantas vivências e percebendo que, ao contrário do teatro em que todas as vezes subi ao palco com um objetivo ou um significado por trás do texto/roteiro, na música, subia sem esta percepção. Mas, tudo que me ocorreu foi válido para enriquecer o meu trabalho como cantora/compositora/musicista. No Trio Dona Florinda, pude me aprofundar na musicalidade mais raiz do sertão, no Música Planetária Brasileira pude conhecer a musicalidade mais contemporânea e no projeto Gaiola Viajante trouxe a minha voz (composições) cantando o sertão contemporâneo.
Bacurau: Vivemos em um momento em que se fala muito de empoderamento feminino, como você vê a figura da mulher hoje no audiovisual e nas artes cênicas?
Carolina: Sinceramente, apesar de muitas conquistas femininas ainda há muito espaço pra ser aberto. No audiovisual, infelizmente vemos que muitas vezes, sem necessidade somos colocadas de forma objetificada. Por exemplo: por que os super heróis masculinos vestem um macacão cobrindo todo o corpo e a mulher maravilha precisa estar com metade dele de fora? Este é um pequeno exemplo diante de tantas produções que colocam o nosso corpo como sendo o foco da nossa apresentação e acredito que muita vezes isso ocorra na música, quanto mais a cantora estiver com o seu corpo seminu em cena, mais será adorada pelo público, a letra e a qualidade sonora da música se torna coadjuvante. Nas Artes Cênicas, vejo pouco reconhecimento ao trabalho feminino, como vocês sabem, fui indicada ao Prêmio Braskem de Teatro, na categoria espetáculo do interior. Haviam muitas mulheres concorrendo em outras categorias, mas, infelizmente de lá só sairam com prêmio as da categoria melhor atriz e atriz revelação. Todos os outros prêmios foram para homens: direção, iluminação, sonoplastia, etc. Fiquei muito feliz em fazer parte daquele momento e muito triste em não me sentir representada. Depois disso, acabei pesquisando e encontrando relatos de outras atrizes fazendo o mesmo tipo de queixa, nos anos anteriores e ouvi mais relatos dos anos posteriores ao da minha indicação.
Bacurau: A lei Aldir Blanc foi um socorro há muito esperando pela classe artística, em sua opinião qual será o legado dessa iniciativa para a cultura de uma forma geral?
Carolina: Sim, é verdade, é uma lei que na verdade já sentíamos a necessidade de sua existência antes mesmo da pandemia. Vindo neste período, nos dará força e gás pra continuar a exercer esta profissão tão aclamada e desvalorizada ao mesmo tempo. Ao meu ver, o poder público tem obrigação de apoiar a arte, pois infelizmente, sozinha ela não se sustenta. Neste formato de editais, faz com que nós artistas tenhamos o entendimento de que precisamos nos organizar, institucionalizar e profissionalizar para alcançar o que almejamos, enxergando assim a arte como uma profissão de verdade.
Bacurau: A APDT e agora a Companhia roda Baraúna, são exemplos de pioneirismo em organização e profissionalização artística na cidade, acha que Paulo Afonso deveria ter uma entidade representativa dos artistas como um sindicato?
Carolina: Com certeza. A Companhia Roda da Baraúna em seus 24 anos de história, trouxe muitas conquistas artísticas a Paulo Afonso e ainda assim, há muito pra ser conquistado. Há um conselho de cultura recém formado, esperando a homologação da prefeitura, que inclusive faço parte como representante das Artes Cênicas, acredito que a medida que formos trabalhando e desenvolvendo esse interesse da classe artística pelo investimento e movimentação do dinheiro público nas artes, nascerá a necessidade individual de capacitação, qualificação e responsabilidade com a profissão e, quem sabe após trabalhar individualmente, surja a necessidade coletiva de um sindicato. Acredito que é um processo, que precisamos observar com carinho e agir com paciência.
Bacurau: Quais são seus projetos para 2021 na pandemia e pós pandemia?
Carolina: Atualmente, com a aprovação do meu projeto na Lei Aldir Blanc, estou organizando o lançamento do meu primeiro álbum autoral e após trabalhar neste, pretendo me dedicar a uma nova forma de fazer música, uma Xandra Diáfana que ainda estou descobrindo.