Samuel Ferreira da Silva ou mais conhecido por Samuka atitude, é um dos proeminentes Rappers de nossa cidade, produtor cultural e musical, Samuka acredita no potêncial do rap pauloafonsino e na valorização dos Mc´s acredita que um movimento rap forte deve ser coeso e militante, Samuka bateu um papo com a Bacural e falou um pouco de seu trabalho e percepção artistica.
Bacurau: Samuka, você tem um bom
protagonismo na cena rap de Paulo Afonso-BA, é um dos pioneiros da cidade,
quando foi que teve a ideia de produzir musicas e trabalhar o rap profissionalmente?
SamukAtitude: A ideia de produzir as
próprias músicas vem desde quando tive a experiência de ir pela primeira vez em
um Home Estúdio, pois quando eu entrei no movimento, foquei mais em produção de
eventos e quando eu tive algumas composições prontas, passei a cantar ao vivo
nos próprios eventos, eu já tinha um certo conhecimento de como os grandes
nomes do Rap Nacional como Racionais, planejaram a carreira do grupo, assim como
muitos outros Mc´s de São Paulo e do RJ, muitos deles começaram com produtoras
independentes, então tive sempre essa vontade de passar por esse processo, mas
as condições financeiras não colaboravam, e sempre que eu tinha que ir a um
Home estúdio eu passava por algumas dificuldades, além de financeira e de
locomoção, eu era um pouco tímido e muitas das vezes não me sentia a vontade,
eu precisava me sentir sozinho para me expressar como eu deveria., então lá pro
final de 2019, depois de realizar meu último evento (Batalha Regional da Ilha),
comecei a dar os primeiros passos para montar meu Home estúdio, comecei comprar
os equipamentos aos poucos, e lá pro final de 2019 eu estava finalizando com
objetivos de inaugurar no começo de 2020, ai devido a pandemia algumas ideias
tiveram que ficar para depois.
Bacurau: A cena rap da cidade
vem crescendo ao longo dos anos, e as novas gerações têm se empenhado em
produzir clipes e músicas, e a promover batalhas de rap na cidade, como você vê
esse movimento?
SamukAtitude: Hoje em dia era para
estar bem mais unido, eu comecei na época onde tudo era mais difícil, eu
estava saindo da adolescência e pensando como me manter nessa cidade, por esses
motivos eu me empenhei muito mais em manter o movimento do que produzir,
apesar de sentir a necessidade de estar na produção, dai que surge a NoizMezmo Produções,
focada em registrar tudo e jogar nas redes, só que o movimento era muito frágil,
porque poucos entravam e muitos saiam, agora que o movimento vem sendo
apreciado em diversas regiões do Brasil, há uma grande disputa por espaço, aqui
em Paulo Afonso muitos Mcs estão empenhados em produzir suas músicas e clipes,
mas poucos estão sabendo formar um movimento, para mim não se cria um movimento
que já se tem, se soma, não devemos ignorar quem veio antes, porque temos os "pioneiros" eu particularmente cheguei a tentar interagir mais com a
nova geração, compartilhava músicas, comentava, convidei para a cypher, mas
devido a alguns problemas não me empenhei mais nesse sentido, mas quando lançamos nossa primeira Cypher que
contou com seis Mc´s , apenas os integrantes da Cypher compartilharam, nem se
quer tivemos comentários de apoio, e os trabalhos estão ai no youtube para quem
quiser conferir, eu passei a observar tudo isso bem antes mesmo da Cypher quando
o grupo “Palavra chave” que sempre manteve parceria comigo, foi cantar no
evento do IFBA eu divulguei no grupo que tinha vários Mc´s mas somente um
apareceu, assim que descemos do palco, quando a gente realizou os dois Tributos
ao Júnior Brown, muitos estavam lá, mas nenhum veio perguntar como fazia para
somar, e quando o grupo “Palavra Chave” foi se apresentar no evento natalino na
Praça do BTN dois dos Mc´s de batalha foram fazer batalha atrás do palco,
humildemente o “Palavra Chave” convidou eles para subir no palco, já que eles
não estavam na programação, mas estavam dividindo o público, essas questões não
são sadias, e nem combinam com a essência do movimento hip hop, os caras são
dispostos, e terão sempre respeito pelos pioneiros do Brasil, mas não estão
dispostos ter o mesmo pelos pioneiros da própria cidade, eu fui praticamente
intimado a não inserir a modalidade de batalha de Mc´s no Regional da Ilha por
não ser o primeiro a realizar uma batalha de Mc´s já que eu realizava somente
de B-boys, a não ser que eu incluísse a produtora deles como parte da
organização, foi ai que eu vi uma brecha para ver se dava certo essa união,
dividi as atividades, mas não vi muito empenho da parte deles, dei a ideia
deles pegarem os contatos dos B-boys que eram todos de fora para que eles
inserissem nos eventos deles, já que só tinha a modalidade batalha de Mc´s e no
primeiro intermunicipal que eles promoveram, eu nem se quer recebi um convite, sinto
que me tratam como um público qualquer, sendo que eu sou um ativista do
movimento, desde quando entrei que o movimento era feito para todos, sempre
teve um bom som para para os B-boys e também para os Mc´s que não eram de
batalha pudessem cantar com pelo menos uma qualidade mediana, sempre tinha um
cartaz para todos, é assim que tem que ser.
Bacurau: Nos últimos anos a cena
underground da cidade vem ganhando espaço nos eventos oficiais do município
(claro as duras penas.) porque isso ainda não é uma realidade para o rap local?
SamukAtitude: Eu sempre comparo isso como uma árvore, digamos que o maior evento da nossa cidade que é a Copa de Vela, fosse uma árvore que pode gerar cinco frutos diferentes a gosto do seu produtor, que no caso é o nosso secretario de cultura, ele tem cinco sementes, mas só planta três, a região provavelmente vai consumir somente três tipos de frutos, isso vem da raiz e precisa ser mudado, sem contar que os artistas locais independentemente de gênero não são bem valorizados, artista bem valorizado pra mim é aquele que canta em um horário adequado ao público, tem um cartaz e nome bem destacado, recebe um cachê adequando para se manter, e até mesmo comprar um equipamento melhor na própria cidade, movimentando o próprio comércio do audiovisual local, tudo isso independente se ele é bem evoluído ou não, porque muitas das vezes a evolução vem através do incentivo, tanto moral quanto financeiro, todos os meus equipamentos foram importados por conta dos preço praticados aqui no Brasil, e a consequência disso foi o tempo de logística que demora muito, com certeza se eu fosse um artista bem valorizado, eu estaria muito mais evoluído e com melhores equipamentos comprados aqui mesmo, porque para isso eu tenho pressa, eu não me recordo o ano, mas foi aproximadamente entre 2002 e 2004 que tivemos Gabriel o Pensador na Copa de Vela, naquela época e rap nem era apreciado por aqui, mas o Gabriel que era um artista do bussiness e não de movimento, agora que o movimento está grande, não estão abrindo espaço para esses artistas que tem um papel muito importante para nosso País, a gente tem que plantar todos os frutos possíveis para nossa cidade.
Bacurau: Você montou o estúdio e
selo NoizMezmo produções, como anda a produção musical de seu estúdio e quem
está produzindo atualmente?
SamukAtitude: Eu dei inicio as
produções no inicio da pandemia, algumas coisas tiveram que ficar para depois, ou seja, sem tempo definido, o inicio tinha toda essa cautela de manter o distanciamento
social, me imaginar trancado em uma sala com outras pessoas dava uma insegurança enorme,
mas com o passar do tempo, a pesar do risco continuar o mesmo, a sociedade se
acostumou e perdeu o medo, dai foi surgindo algumas produções, primeiramente
com o Grupo “Palavra Chave”, logo mais veio alguns Mc´s de Brega Funk como Mc
GK e Português do BTN, Mc Biel entre outros, e recentemente finalizei alguns trabalhos
para o meu canal em parceria com os Mcs de Rap que me identifico da cena local,
e atualmente estou finalizando outra musica minha em parceria com Bernardo Jr e
o Frank MC, o nome da single é Prata da casa.
Bacurau: Samuka você teve
algumas parcerias com o Júnior Brown (in memorian) qual é o legado desse MC
(mestre de cerimônia) para a cena rapper pauloafonsina?
SamukAtitude: O J. Brown foi realmente
um dos pioneiros junto com o 2rap e o Sujeito Gueto, creio eu que nessa época
ele contribuiu muito, tanto é que ele era bem reconhecido na nossa cidade, foi
locutor de rádio e tinha um gosto musical mais amplo, no momento em que eu
entrei ele não participava muito dos eventos, muitas vezes pelo problema com
bebidas, porém era o que eu mais tinha intimidade e contato, eu frequentava
muito a casa dele, via todas as suas composições e tentava ajudar na medida do possível,
muitas das vezes eu deixava até meu notebook com ele, então eu peguei o Brown
em uma fase em que ele precisava de ajuda e muita atenção, nunca desisti dele,
e fiz questão de fazer alguns trabalhos com ele na medida do possível, era mais
que um parceiro, só brigamos uma vez quando ele estava embriagado, mas no dia
seguinte com toda a humildade ele pediu desculpas, era difícil não gostar dele,
era um cara muito carismático.
Bacurau: Quais são os trabalhos
que pretende realizar no ano de 2021?
SamukAtitude: Para este ano pretendo gravar todas as minhas composições, literalmente
falando "tirar do papel". Mas é algo inserto pelo fato de eu sempre
estar dando prioridade aos trabalhos que me oferecem uma renda, então minhas
musicas sempre ficam para quando eu tenho um tempo, sem contar que estou em um
processo de conhecimentos e montagem de um workflow de trabalho, e algumas
musicas minhas que já estão gravadas sempre acabam passando por
modificações.