Alan Cavalcanti é um colecionador nato de música e cultura retrô, tem uma das melhores coleções da cidade, possui um grande acervo da música Pauloafonsina, e está a frente de programas musicais e de noticias na Rádio Cultura FM 92,7 de Paulo Afonso-BA leva toda sua experiência sobre a cena cultural local para os seus ouvintes, batemos um papo legal nessa entrevista à cultura Bacurau.

 

 

Bacurau: Alan, você tem se dedicado nos últimos anos a compilar e colecionar as obras da música da pauloafonsina, quando teve a ideia de fazer essa compilação e qual a importância para a cena underground?

 

AC: Primeiro é uma satisfação gigante está nesse papo com você e obrigado por apostar na Cultura da cidade e região na sua Rádio, cara, sempre dei muito valor ao artista mais próximo, meu brother, minha cidade, minha região, meu país, sempre escuto bandas pauloafonsinas, infelizmente tem cara que dá 100 reais em um disco gringo e não dá 10 no disco de amigo de infância, e também tem aquele artista que não tem nem seu próprio registro. E sobre a importância disso, vou te dar uma ideia. André Souza, cineasta aqui da cidade tem alguns vídeos (filmes) feitos e um dos vídeos chamado de Paulo Afonso: Um Muro, Duas Cidades, que já indico a quem não ainda não assistiu, assista vale muito a pena. Voltando ao André, esse filme se não me engano foi feito pra algum trabalho da faculdade e nem ele tinha e também nem a faculdade tinha mais esse registro, e graças, e por ter feito uma cópia e deixado guardada não se perdeu no tempo, isso foi muito gratificante, na verdade, toda cidade devia ter anexado a sua biblioteca principal um museu com obras de seus artistas.

 

Bacurau: Você foi um dos primeiros a criar uma revista eletrônica na internet exclusivamente para a divulgação cultural (tipo fanzine) a PauloafoSOM, que tinha como um dos objetivos amplificar também cena local de Paulo Afonso-BA, e sua gama de artistas e expressões, você tem ainda a pretensão de voltar a fazer essas publicações seja na internet ou de modo físico?

 

AC: Brother, a PauloafonSOM que nas últimas edições trouxe a capa só P.A SOM foi realmente uma coisa muito legal de fazer, foram várias edições e olha que ainda tinha muita história pra contar, não cheguei a postar quase nada devido a grande leva de artistas que temos, a revista não acabou (acredito), ainda tenho o projeto de trazer ela de volta, o problema é que no começo tinham alguns colaboradores que ao longo do tempo foram deixando de mandar textos (também não podia cobrar, não tinha como pagar por esses textos e a vida de cada um é bem corrida) Mas penso num projeto de retorno mais abrangente com mais pessoas, já com seus quadros e blocos certos, pra você ver, eu escrevia e fazia a diagramação, com o trabalho e a faculdade,  meu tempo ficou pouco, mas não esqueço a revista, só não posso retornar da mesma forma que fazia.

 

 Bacurau: Você iniciou o projeto ColecoTeca um canal no YOUTUBE que objetiva digitalizar e disponibilizar trabalhos de artistas locais e até de Bandas que não estão mais em atividade, como tem sido a repercussão do projeto entre as bandas e grupos divulgados?

 

AC: Cara, você me conhece há muito tempo, já fiz página de internet de todo jeito pra tentar divulgar artistas dessa cidade, já foram blogs, sites entre outras plataformas que não tem o mesmo acesso do YouTube, a ColecoTeca surgiu da ideia de expor minhas coleções, o nome já diz algo assim, vídeoteca (é uma coleção de filmes e vídeos), biblioteca (coleção de livros) é por aí vai, ColecoTeca (é mais ou menos uma coleção de coleções). A ColecoTeca também teve surgimento por uma raiva que tive com meu Instagram antigo, comecei a postar todos os dias no meu antigo Instagram, minha coleção de aparelhos de vídeo games, e era legal a interação dos seguidores contando histórias nos comentários sobre suas experiências com esses aparelhos, e também um aumento grande de seguidores por causa dessa série de postagens, aí veio um louco não sei se com algum tipo de inveja ou transtorno e/ou raqueou e deletou minha conta ou denunciou ao Instagram, e minha conta foi deletada, daí, fiz um novo Instagram pessoal e o Instagram da ColecoTeca para as postagens dos itens das minhas coleções, vou colocar bandas ativas e bandas que realmente ficaram no tempo, um amigo meu disse que tinha o disco de "TAL" artista, só que era muito ruim, eu disse a ele que a importância não é se é bom ou ruim, e sim que não caísse no esquecimento. Sobre a repercussão entre os artistas, eu ainda vejo que o artista local não divulga muito seu trabalho, salvo algumas exceções, e o projeto também vai ter entrevistas e bate-papos com artistas e pessoas da área.

 

 Bacurau: Os canais no youtube, e as plataformas de streaming, facilitaram o acesso a conteúdos que antes só eram possíveis com a compra de DVD´s, Blueray´s, CD´s, VHS etc, hoje estão disponíveis em um click ou Google, como colecionador, acredita que a era do acumulo e do consumo de obras físicas está condenada?

 

AC: Boa pergunta, olha, sobre o fim do colecionismo, isso jamais acontecerá, mais o consumo de obras vai diminuir do ponto de vista de pessoas que compravam só por ir em lojas de departamentos, mas quem gosta sempre vai comprar, só que com a produção menor os preços vão aumentar, exemplo disso é o disco de vinil, cada vez mais caro e hoje tem mais saída que as vendas de CDs e mp3 no mundo, outro item de colecionador que está a preços absurdos são os vídeo games antigos, esses estão com valores surreais, para o colecionador pode ser bom ou não, pra mim tá bom por enquanto, olha só, enquanto muita gente está se desfazendo de suas coleções ou itens como CDs, games, DVDs e discos de vinil, eu ando à procura disso e pegando em preços ainda legais nas feirinhas, crescendo minha coleção e ampliando meu conhecimento sobre obras, e o prazer de colocar o disco e trocar de lado, olhar os encartes e detalhes de um vinil, ler um livro, jogar um jogo no vídeo game mesmo e não num emulador de computador, Isso tudo não tem preço.

 

Bacurau: Você tem atualmente tem se destacado no rádio, sendo um dos âncoras na programação da Rádio Cultura FM 92,7 Paulo Afonso-BA, como tem sido essa experiência no rádio?

 

AC: Um aprendizado novo a cada dia, tive experiência com rádio no passado na antiga Phala Sério FM(Primeira rádio underground de Paulo Afonso-BA) e até então uma das melhores experiências profissionais que tive, mesmo sem nunca ter ganho um real na época, mais trabalhar com comunicação é sempre fantástico, na Cultura FM está sendo muito bom, aprendendo cada vez mais sobre música e colocando um pouco do que conheço na programação da rádio também, a troca de informação com locutores de programas diferentes somou muito para o que hoje estou fazendo, são programas pra diferentes públicos, a troca de ideia com o público também é irado, parece uma verdadeira família, para os ouvintes você se torna várias coisas, um amigo, um confidente, uma celebridade ou um artista, na verdade nos tornamos uma pessoa conhecida na mídia, acaba virando uma pessoa pública.

 

Bacurau: O projeto circuito cultural alternativo, foi um dos projetos contemplados pela lei Aldir Blanc em 2020, e terá um retorno depois de um hiato de 10 anos, qual é a expectativa dessa nova edição do projeto?

 

AC: Sim, o projeto foi prestigiado pela lei Aldir Blanc, a expectativa é muito grande de trazer de volta o Circuito Alternativo, no passado esse evento abriu muitas portas e mostrou muita gente pra o público, na verdade, quando se trata de underground em Paulo Afonso e região, na minha opinião o Circuito Cultural e a Phala Sério FM, foram marcos importantes porque foram a porta de entrada de muita gente, porque realmente foi direcionado a trazer música e artistas regionais ao grande público, e a ideia é trazer de volta toda aquela vibe que rolou na época, misturando os artistas da oldschool e a nova leva de artistas no mesmo palco, tentar trazer artistas que estão ainda desconhecidos ao público de hoje. Aproveitar que hoje Paulo Afonso tá em outro patamar, na verdade o mundo é outro, hoje é mais fácil propagar o artista com as redes sociais, e quando falo que P.A está em outro patamar, me refiro a uma P.A que tem escolas de música pública e privada, tem uma rádio gigante com um olhar mais carinhoso pro artista da terra, e tem vários outros canais de comunicação como a Bacurau Web Rádio e outras divulgando o artista e arte original pauloafonsina, e foi pensando em tudo isso que resolvemos trazer de volta o Circuito Cultural Alternativo.