Luiz Ruben Ferreira de Alcântara
Bonfim, é um dos maiores especialistas sobre o cangaço no Brasil, suas obras
são referência para muitos trabalhos acadêmicos sobre o tema, Pernambucano de
nascença, mas Pauloafonsino de coração(agora com título) batemos um papo nessa
entrevista que segue logo abaixo.
Bacurau: Ruben, você é um
dos grandes referenciais de estudo no tema cangaço, principalmente pela
relevância de suas obras que narram o que a imprensa da época reportava sobre
Lampião e seus cangaceiros, mas quando especificamente se interessou pelo tema
e foi em busca desses arquivos históricos?
L.R. – Em 2001 com a presença do grande pesquisador Antônio Amaury
Correa de Araújo que esteve em frente da minha casa aqui em Paulo Afonso. Ele estava com um grupo fazendo um tour de
cangaço na zona rural e fui convidado para participar. Em cada povoado que
passávamos ele ia narrando os acontecimentos. Fiquei durante três horas,
boquiaberto, pois não imaginava que Paulo Afonso tivesse uma participação
importantíssima na narrativa cangaceira. Achava que sabia alguma coisa de
cangaço com a leitura de dois livros, Lampião
e o Outro e Jararaca o cangaceiro que
virou Santo. A partir desse momento indo a Recife comprei grande quantidade
de livros inclusive os da autoria de Amaury. Dai em diante não parei mais, me
dedicando principalmente a pesquisa em documentos oficiais e jornais da época.
Bacurau: O cangaço é um
fenômeno que precede Lampião, mas quando precisamente começou a surgir grupos
de bandoleiros no Nordeste?
L.R. – Rigorosamente, no século XVI, existem relatos de Duarte
Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco, informando ao rei de Portugal os
enforcamentos de bandidos aqui realizados. No período da invasão Holandesa
(1630 a 1654), Maurício de Nassau deixou documentos escritos relatando os
bandos de assaltantes que existiam na região conquistada por eles. No meu livro
Como Capturar Lampião você encontra a
carta documental do assunto.
No nordeste, os mais destacados
foram: Cabeleira, final do século XVIII e no século XIX o Jesuíno Brilhante,
Adolfo Meia Noite e Antônio Silvino que se entrega em 1914. Sinhô Pereira e
Luiz Padre, de 1916 até 1922, quando Sinhô Pereira entrega o comando do bando a
Lampião que “reina” de 1922 até 1938. Finalizando com Corisco que morre em
1940.
Bacurau: Qual a real
influência de Padre Cicero sobre Lampião, e se é verdade que as armas a qual
Lampião teve acesso no acordo entre Padre Cicero e Floro Bartolomeu de fato não
serviram para ele, e se realmente as utilizou ou se desfez delas?
L.R. – A família de Lampião já vivia sob a proteção de Padre Cícero
em Juazeiro do Norte nos meados dos anos 1920. Quando Lampião foi receber a
patente do Batalhão Patriótico do Juazeiro, a convite do Padre Cícero e Floro
Bartolomeu, para lutar contra a Coluna Prestes, recebeu armas, munições, animais,
dinheiro, fardamentos e um reforço de mais de cinquenta homens ligados ao Batalhão
do Juazeiro. Ele não utilizou esses recursos para o combate a Coluna Prestes,
pois não a combateu. Ele, com todo esse material intensificou suas ações contra
seus inimigos dando continuidade ao seu meio de vida até o final em 1938.
Bacurau: Qual a importância
de grupos de estudo como o Seminário Cariri Cangaço e o Centro de Estudos
Euclydes da Cunha (CEEC-UNEB) para a sociedade?
L.R. – Tem importância fundamental. Pra você ter uma ideia nos dez
anos do Cariri Cangaço, onde tem a participação de mais de 80 municípios de 17
estados da federação foram publicados mais de 60 livros, centenas de palestra e
seminários e mesas de debates. Participei entre outros do documentário Feminino Cangaço com mais de oitocentas
mil visualizações no youtube, produzido pelo CEEC, que igualmente, tem
importância fundamental para a disseminação do conhecimento para toda sociedade
sobre os acontecimentos com Antônio Conselheiro.
Inspirado no primeiro grupo do
cangaço, a SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço surgiu o Cariri
Cangaço e depois deste se formaram outros grupos de estudos como, no Ceará o
GECC, na Paraíba o GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço e recentemente
(2019) em Pernambuco fui cofundador do GECAPE – Grupo de Estudos do Cangaço de
Pernambuco. Coroando tudo isso, em 2019, foi criada a ABLAC – Academia
Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, da qual sou cofundador, ocupando a cadeira
nº 3, escolhendo como patrono Ariano Suassuna.
Bacurau: A introdução de
mulheres no cangaço segundo alguns historiadores, foi um dos motivos que
fizeram o cangaço acabar mais cedo, procede esse argumento?
L.R. – De forma nenhuma. Quando Lampião foi morto em 1938 ele tinha
nos seus quadros mais de setenta cangaceiros e cangaceiras. Esse número indica
que ele estava no auge do recrutamento desses elementos. Houve a partir de 1931
até a morte de Lampião e Corisco, a formação de cerca de 64 casais, distribuídos
nos subgrupos que ele formou. Nos anos 20, período anterior a entrada das
mulheres, Lampião não havia formado grupos tão numerosos e coesos. Ele entra na
Bahia em agosto de 1928 com apenas 5 homens e depois disso vai fortalecendo o
bando com a entrada de muitos elementos. Fazendo uma comparação, o grupo, na
primeira fase, levando-se em consideração o número de cangaceiros, não houve
enfraquecimento do bando com a entrada das mulheres que foi a partir de 1931,
embora alguns autores considerem 1930, nas minhas pesquisas, não encontrei
comprovação para esse ano e sim para 1931.
Bacurau: Gostaria que colocasse aqui quantos livros publicou sobre essa temática, seus respectivos títulos e ano de
publicação.
L.R. – Tenho um total de 19 livros publicados e cinco 5 no prelo.
Sobre a temática Cangaço são 12
títulos publicados e três no prelo.
1 - Estrada de Ferro Paulo Afonso
1882-1964 em 2001
2 - Estrada de Ferro Central de
Pernambuco em 2002
3 - Lampião e a Maria Fumaça,
coautoria de Antônio Amaury Corrêa de Araújo
1ª edição 2003 e 2ª edição em
2013
4 - Lampião e os Governadores em 2005
5 - Lampião e os Interventores em
2007
6 - Estrada de Ferro Paulo Afonso -
Sua Origem em 2007
7 - Lampião e as Cabeças Cortadas,
coautoria de Antônio Amaury Corrêa
de Araújo em 2008 e 2ª edição em
2020
8 - Na Mala do Poeta tem Poesia de
todo Jeito Vol. I
(organizador com Jotalunas
Rodrigues) em 2009
9 - Notícias sobre a Morte de Lampião
em 2010
10 - Lampeão Conquista a Bahia em
2011
11 - O Bronze do Imperador e a
Cachoeira de Paulo Afonso em 2012
12 - Na Mala do Poeta tem Poesia de
todo Jeito Vol. II
(organizador com Jotalunas Rodrigues) em 2013
13 - Como Capturar Lampeão em 2013 e
2ª edição em 2020
14 - Fim do Cangaço: As Entregas em
2015 e 2ª edição em 2020
15 - Charges com Lampião em 2015
16 - Lampeão Antes de ser Capitão em
2016 e 2ª edição em 2020
17 - Na Mala do Poeta tem Poesia de
todo Jeito Vol. III
(organizador
com Jotalunas Rodrigues) em 2017
18 - Lampião em 1926 em 2017 e 2ª
edição em 2020
19 - Lampião em 1927 A Marcha dos
Bandidos em 2019 e 2ª edição em 2020
No prelo:
- Lampião e seus Cangaceiros - Caderno
de Anotações
- Lampião em 1930
- Lampião em 1931
- Guerra Civil Americana na Bahia
- Paz Guerra e Civismo (biografia e
reedição do texto em colaboração
com a Fundação Zeferino Galvão,
Pesqueira PE).
Luiz Ruben Ferreira de Alcântara
Bonfim.