Igor Gnomo é um dos grandes nomes da música instrumental Baiana e promotor desse estilo em nossa cidade e região, a Bacurau bateu um papo com ele e vocês conferem logo abaixo.

 

Bacurau: Gnomo você tem tido nos últimos 5 anos um bom protagonismo na cena musical de nossa cidade, inclusive na popularização da música instrumental, quando foi que de fato você começou a se preocupar com a criação de público desse gênero na cidade?

 

Igor Gnomo: Em 2010 iniciamos alguns encontros musicais na sequência convites para workshops voltados para a demonstração de instrumentos musicais. Já vinha compondo algumas coisas e resolvi pôr em prática, então oficialmente em 2011 comecei a trajetória com direcionamento voltado totalmente para a música instrumental e assim lançando o primeiro álbum autoral (NorDestino). De lá pra cá tive bons resultados, bastante aprendizado e tudo é questão de renovar o diálogo com público defendendo a bandeira da música autoral instrumental feita no Nordeste. Não é nada fácil defender a música instrumental autoral no país, mas sou muito grato a todos que nos apoiam e fortalece a jornada, é muito gratificante chegar em outros lugares e falar para as pessoas de onde somos. Agradeço imensamente a você Thales e a Bacurau por sempre expandir o nosso trabalho.

 

 

Bacurau:  A CEMIG é pioneira no ensino de música sistematizada e com acompanhamento pedagógico em Paulo Afonso, qual foi o maior desafio em abrir uma escola de ensino de música em nossa cidade, e como o CEMIG se virou em plena pandemia pra manter as aulas e fidelizar os alunos em aulas on line?

 

Igor Gnomo: No decorrer do curso de licenciatura em música na UFS percebi a necessidade da nossa cidade ter um conceito em educação musical oferecendo não apenas a teoria e prática em sala de aula, mas a vivência artística através do fomento e novas experiências para crianças, jovens e adultos. Nestes 7 anos de existência do Cemig Music conseguimos fazer centenas de pessoas irem ao encontro da música através de um instrumento musical, algumas bandas autorais e músicos atuantes na nova cena. O empreendedorismo sempre me encantou, na vida real é uma batalha constante e em março de 2020 foi onde me encontrei de frente com uma muralha a ser escalada e assim encontramos uma brecha de inovação através da plataforma virtual Cemig Music e hoje oferecemos além dos cursos presenciais, um suporte on-line diferenciado. A pandemia nos trouxe as dificuldades, aprendizado e novos alunos de diversos estados do país (Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal).

 

 

Bacurau: Você foi o primeiro músico a realizar em Paulo Afonso um Jazz festival com artistas da cidade e com músicos renomados em nível nacional, em algum momento achou que o festival seria de apenas uma edição, ou sempre achou que poderia realmente ser um sucesso?

Igor Gnomo: Em 2012 comecei a circular com o trabalho autoral passando por alguns festivais independentes e assim foi nascendo a vontade de realizar algo em Paulo Afonso com a atmosfera que pude vivenciar. Em 2016 veio o Bond Jazz, no ano seguinte o Paulo Afonso Jazz Festival com a vertente inspirada em festivais como o Montreux Jazz Festival onde "tudo é jazz" (tradicional, beebop, acid-jazz, urban-jazz, brazilian jazz, choro, baião, blues, música popular brasileira, jazz rock). Na real sempre soube do desafio, aliás, milhares de desafios no âmbito de gestão, apoio e a turma do "contra" (que é a mesma dos portfólios fantasmas), e a cada ano com exceção de 2020 será um desafio diferente e acho que isso também é o barato do propósito, enfrentar e realizar. Temos uma boa expectativa também para realização da Jam no Parque (contemplada pela lei Aldir Blanc) após a sagrada vacina com uma edição bem especial.

 

 

 

Bacurau: Qual o maior desafio da música autoral na formação de público?

 

Igor Gnomo: O maior desafio está no público de casa e a falta da casa pra tocar, o artista que consegue colocar 200 pagantes em uma apresentação e tendo onde tocar pode abrir o sorriso dormir em paz. Qualquer cidade no Brasil que tiver um centro cultural privado ou público que ofereça a possibilidade de realizações independentes já é uma grande vitória, infelizmente o número de casas de shows e pubs despencou devido a economia e quando assim for permitido uma possível retomada será a hora de entregar ao público as produções feitas durante a pandemia (que acredito que vem muita coisa boa), mas em qual local? Tivemos nossa turnê que passaria pelo México e outras cidades cancelada e sem perspectiva de realização devido as incertezas óbvias do mercado, a concentração está focada nas redes de conexão virtuais. Infelizmente o que o dono de bar "moderno" quer não atende as perspectivas da formação de plateia com a música autoral. São duas realidades distintas, o artista que faz releituras ou cover para o entretenimento, e o compositor que busca um público mais atento na obra e no que vivemos neste momento maluco, então o que nos resta é criar espaços para colocar esse público atento, caso contrário será a vitória do patriarcado.

 

 

Bacurau: Sua empresa foi contemplada com os recursos da lei Aldir Blanc, nesse sentido qual é o legado que essa lei deixa para a comunidade artística de uma forma geral?

 

Igor Gnomo: A lei Aldir foi um alívio merecido para uma boa parte dos trabalhadores em nosso país, o legado principal está no que será produzido em reflexo de um momento jamais vivido, um liquidificador de arte feita em tempos de dor, incertezas e esperança pelo retorno. Será uma erupção de trabalhos inéditos e que assim tenhamos em mente de fato quem criou, lutou pela lei e não apenas o dito cujo presidente que assinou mas  antes de tudo também assassinou a cultura.

 

 

Bacurau: O município de Paulo Afonso através da secretária de cultura e já no final de 2020, realizou a primeira conferência de cultura que elegeu parte do conselho municipal de cultura, você acredita que agora teremos realmente um início de uma política cultural mais voltada para o fomento e a valorização da cultura como cadeia produtiva e geradora de emprego e renda?

 

Igor Gnomo: De fato espero que seja proativo, tudo funcione como realmente deve ser. Embora uma grande maioria dos colegas ativos no mercado musical local não participaram da votação ou sequer souberam do processo e a importância do conselho, pelo fato da realização de forma emergencial. Também Já está sendo articulado uma ação representada por músicos proativos em movimento direcionado totalmente aos músicos locais, algumas reuniões já aconteceram e achei muito proveitoso o que os idealizadores estão propondo e  buscando quanto a organização da frente pela causa.

 

Fotografia: Felipe Rezende