A Banda Hatend é uma das pioneiras do metal extremo de Paulo Afonso-BA, e muitas vezes por conta de seu estilo digamos assim “grotesco” tem uma visibilidade menor em eventos de cunho “Rock n roll” de nossa cidade, mas a Bacurau trocou uma ideia com Jurandir (Juju Death) vocalista/frontman da Hatend, e falamos sobre sua história, desafios e claro sobre a cena underground.


Bacurau: Jurandir, vocês têm sido uma banda de nicho e de resistência do gênero no alto sertão Baiano, a pandemia atingiu toda a cadeia produtiva da cultura, sendo uma banda de nicho como a pandemia afetou o trabalho de vocês?

HT - Primeiramente nós da Hatend, agradecemos o espaço no Bacurau web radio por esta entrevista,  e vamos lá, a questão pandêmica sanitária afetou todos e com underground de nicho não foi diferente, para nós interrompeu todo um planejamento da banda que vinha com uma nova formação estabilizada desde 2017, onde voltamos aos palcos com shows e ritmo de ensaios e gravação, tudo isso foi parado, que gerou incertezas e tristeza, mas que por outro lado esta pausa ajudou no sentido de cuidar de nossa  saúde e das pessoas que estão nosso redor, estas férias forçadas se assim podemos falar, serviu como combustível  a mais pra trabalhar em nossa musica e composições e assim que vacina vier voltaremos com carga máxima, e logo nós vermos em algum palco perto de vocês.

Bacurau: Paulo Afonso possui dois eventos (Moto Paulo Afonso e Copa de Velas) e que em tese poderia proporcionar mais visibilidade as bandas locais de som autoral, mas preferem investir em bandas cover, por qual o motivo você acha que não há esse incentivo, é por causa de gênero? Ou porque o governo municipal prefere fazer festas tipo “povão”?

HT - É tudo isso, que você pontua muito bem, mas falarei pela Hatend onde desde começo da banda tivemos uma atividade fora destes eventos citados, por esta conexão com underground regional/nacional a gente sempre tocou muito mais fora de nossa cidade,  é sempre bem vinda uma  visibilidade em eventos de grande porte em Paulo Afonso, mas nunca fomos dependentes  só deles, as vezes tem se a impressão de que nós se não tocamos aqui é porque não há uma boa vontade da prefeitura, como se fosse um favor morreríamos artisticamente e tal, não é isso, não cuspimos em prato que já comemos, tocamos em eventos como palco alternativo em copa velas passadas e até recentemente num festival em homenagem a Marcos(Bendizei) e Odara, mas afirmamos que nossa banda toca em outros eventos, lugares sempre tendo respeito e maturidade pra enaltecer o verdadeiro underground que já acontece com Wilker e a fronteira produções nos dias hoje e anteriormente com Halysson da sertão produções , coletivo PAU( PAULO AFONSO UNDERGROUND) e muitos outros aqui como na região, mas sim acho que o poder publico devia ter esta obrigação estabelecer um palco alternativo com as bandas locais e autorais em seus eventos, acho que ainda muitas secretarias de cultura ainda não acordaram pra isso, pra outras linguagem de cultura e movimentos, e sinceramente acho que nunca irá acordar, mesmo assim continuaremos aqui fazendo o que acreditamos.

Bacurau: A cena underground sobreviveu e está mais forte, diferente do metal e do pop rock que deram uma caída muito grande com o passar dos anos e com o advento do forrónejo, pagonejo e sertanejo universiótário, a quem você credita de fato essa resistência da cena underground?

HT - O metal, o punk sempre foi underground e não será diferente, não adianta queremos ter espaço como esta musica popularesca que você muito bem cita, não é este público o nosso e nem será, então independente de modas e estilos musicais de verão o rock sempre existira, temos fanzines, canais de youtube e web rádios, acredito que isso contribui bastante pra que nosso estilo continue vivo, então pra nós só temos agradecimentos a todos estes que fazem isto existir,  então reafirmo credito toda esta força as bandas, público, canais de youtube, web rádios , fanzines e produtores de shows que não deixam esta chama morrer, nós aceitamos nosso lugar e o que queremos do underground é que o mesmo se sustente e todos possam viver de sua paixão e com alguma compensação financeira pra manter se e ser feliz, não queremos este mainstream de jabás, com todo respeito a quem pensa diferente, mas podemos coexistir e viver com isso.

Bacurau:  Hatend vem se consolidando ao longo dos anos no underground apesar de ter possuído várias formações, como consegue manter a originalidade proposta pelo som,  e se manter fiel ao extremo e o crossover?

HT - A nossa história não é diferente de muitas bandas, e tenho uma boa relação com todos que passaram e fizeram da Hatend o que ela é hoje, o legal desta banda que todos que estão nela agora já acompanhavam, curtiam, participavam de sua historia e hoje sou muito feliz com quem estar aqui agora, fazendo mais este capitulo na vida da banda, e a integridade e identidade é tudo que temos então manter se fiel ao estilo que praticarmos não é difícil, quando a crença no trabalho as coisas fluem, na banda todos são apaixonados por metal extremo e crossover.

Bacurau: Hatend foi contemplada pela lei Aldir Blanc, mas se recusou a receber o prêmio, qual foi o motivo da recusa pelo grupo do recurso? 

HT - Sim foi isso mesmo, primeiro quero parabenizar a todos que participaram do processo de construção disso e foram comtemplados de alguma forma, e que 2021 seja de muitos projetos realizados por todos, bem no nosso caso ocorreu que nós concorremos pra um valor e fizemos alguns planos e projeções pra isso, e quando vimos o edital com redirecionamento pra um valor bem abaixo e que não contemplava aquilo que tínhamos em mente, a banda em comum acordo resolveu abrir mão desta quantia que não ia viabilizar em nada o que queríamos.  Então resolvemos tocar os nossos planos sem este recurso que ajudaria caso viesse, mas como não aconteceu, não irá paralisar o que iremos ainda fazer, portanto é vida que segue e metal sempre.

Bacurau: Jurandir, você tem se destacado na cena underground, não só pelo vocal e por ser uma voz dissonante na defesa do extremo e da cena underground local e regional, e tem se envolvido em vários projetos, seja concedendo entrevistas a canais e web rádios especializadas pelo Brasil, você também é dirigente em um sindicato, como consegue relacionar seu trabalho artistico e o ativismo sindical?

HT - Cara é bem difícil, mas quando se gosta, arruma se forças e faz, acho que o ativismo sindical me deu uma habilidade em ponderar, dialogar e negociar. Então você aprende a ouvir, filtrar, colocar pra discursão e tal, e as entrevistas e participações em outros veículos eu credito ao trabalho que a Hatend tem nas redes sociais que é de formiguinha e também como apresentador do Bacurau underground e agora 2021 do programa santo de casa, e isto é um presente que me proporciona um canal de visibilidade, não só pra min como pra Hatend  e para bacurau que já se estabelece no movimento nacional/local como uma voz do underground, e poder levar um pouco deste aprendizado que tenho como vocal de banda e dirigente sindical é enriquecedor só tenho agradecer a todos que me deram oportunidade de participar, só me resta agradecer e dizer que se saúde sempre tiver continuarei com as bandas HATEND e EVIL EFFECT, com Sindicato dos comerciários e na Bacurau dando minha contribuição pra underground local e nacional na área de comunicação e musical . Obrigado mais uma vez pela entrevista e oportunidade.