Muitas e muitas vezes já me deparei com pessoas escrevendo ou falando, de forma bastante efusiva, as seguintes frases: “antigamente é que era bom!”, ou, “naquele tempo é que as coisas eram boas”. Obviamente que, quem profere essas frases ou vive na nostalgia de seu passado ou simplesmente não tem noção do seu lugar na história do seu tempo presente.

 

Os avanços da ciência e tecnologia nas áreas da medicina, alimentação e das políticas publicas aplicadas ao bem-estar físico e social da população, desenvolvidas a partir do século XX, têm possibilitado aos seres humanos vidas longevas. Aqui no Brasil, nos dias atuais, por exemplo, gira em torno dos 76 anos, segundo o IBGE.

 

Para se ter uma ideia, dos primeiros assentamentos agrícolas, datados de 4 a 5 mil anos antes de Cristo, até o ano de 1910, a população mundial era da ordem de 2 bilhões de pessoas e em menos de 110 anos, principalmente após a década de 1940, chegamos a contabilizar mais de 7,7 bilhões de humanos e estima-se que até 2050 nosso planeta abrigará algo em torno de 10 bilhões de pessoas.

 

Então, não é difícil entender que o passado não é tão maravilhoso e que, dependendo do momento, sua expectativa de vida não passaria dos 40 anos, como era na Idade Média. No Brasil da década de 1930, a taxa de mortalidade infantil era de quase 200 mortes para cada mil crianças nascidas, sendo que a maioria não chegava a completar um ano de vida, pois eram acometidas por doenças como sarampo, difteria, coqueluche, tétano, poliomielite ou rubéola, mas as vacinas e as campanhas pró-vacinação conseguiram diminuir esses índices, que hoje orbita em torno de 15 óbitos para cada mil nascimentos registrados.

 

Visitando um passado não muito longínquo, podemos perceber que não tínhamos as mesmas variações de alimentos a que temos acesso hoje, não só por conta dos altos índices de produtividade alimentícia da pecuária e da agricultura, seja ela familiar ou não, mas também pelo acesso que temos aos mais variados tipos de legumes, verduras, grãos, laticínios, carnes e derivados. Aqui no Brasil, durante quase uma década, a de 1980, ter alguns itens alimentícios era artigo de luxo, pois eram caros, raros e destinados a pouquíssimas pessoas.

 

Sobre nostalgia alimentícia, muitas pessoas que estão surfando na dieta do momento, a chamada “dieta do jejum intermitente”, que basicamente consiste em passar horas sem se alimentar, alegam que ‘os homens pré-históricos, caçadores coletores, ficavam horas, ou dias, sem consumir qualquer tipo de nutriente e que por isso tinham melhor saúde’. Pois quem brada esse tipo de saudosismo, esquece ou não sabe que a perspectiva de vida dos humanos nesta época era menos de 25 anos.

 

Lembre-se que “ao dar um passo a frente, você não estará mais no mesmo lugar”, como disse Chico Science, certificando que a vida, o mundo e a história são dinâmicos e elásticos, totalmente desprovidos de certezas e mesmismos. Claro que não podemos deixar de olhar o passado com certa nostalgia nem mesmo negar os acontecimentos ocorridos, mas é impossível tentar revivê-lo, visto que, parafraseando Belchior “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

 

Prof. Manoel Pereira é formado em Licenciatura Plena em Física, na UEPB; tem especialização em ensino de Ciências, pela UNB; Mestre em Ensino de Astronomia, pela UEFS; além de trabalhar com divulgação científica através do canal do Youtube e Instagram Ser Tão Ciências.

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