A astrologia está presente em nosso cotidiano e imaginário popular há mais de 4 mil anos. Mais ainda em tempos de redes sociais, onde muitos usuários, utilizam um dos doze signos do zodíaco como cartão de visita de seu caráter ou personalidade.

 

Duvida?

 

Dê uma olhadinha em alguns dos seus contatos no Instagram e você poderá ver: Maria, 21, Canceriana; Matheus, 28 anos, Leonino; Sandra, geminiana com ascendente em peixes.

 

Mas, como é que Sandra, Matheus e Maria sabem que naquele momento, naquela data em que vieram ao mundo, um conjunto de corpos astrais vão reger suas vidas, suas decisões, seus amores, sorte e azar?

 

Para isso, temos que voltar a mais de 5 mil anos em nossa história, numa região do planeta conhecida como Mesopotâmia, onde hoje estão países como Iran e Iraque. Nesta localidade, temos o despertar dos primeiros assentamentos agrícolas da humanidade, que mais tarde vieram a se tornarem civilizações e impérios, como os Assírios, Caldeus, Sumérios e Babilônios. Esses povos faziam observações do céu e notaram que o mesmo caminho, conhecida com eclíptica, que é percorrido pelo Sol e pela Lua, também é feito pelos planetas visíveis a olho nu e por grupos de estrelas, as constelações, que foram associadas a figuras de deuses, humanos e animais como o caranguejo, o peixe, o touro, leão, escorpião, os grandes gêmeos, o pastor, o velho e o trapaceiro. Não por acaso, essas constelações foram batizadas de constelações zodiacal ou do zodíaco, que significa círculo de animais.  Os mesopotâmicos, tiveram a noção que o movimento deste zoológico celeste era cíclico e assim, correlacionaram o aparecimento dos signos com as estações climáticas e com a época certa para semear, cultivar e colher. Mas essa associação também estava ligada às adivinhações, predições de maldições, sorte, fome, fartura, queda e ascensão de reis e seus reinados.

 

Com o refinamento das observações e já tendo a noção de movimento cíclico, os mesopotâmicos dividiram o céu em 12 pedaços, onde cada um correspondia a um ângulo de 30 graus, fechando um círculo no céu de 360 graus, onde cada signo ficaria em média de 30 a 40 dias, reinando na esfera celeste. E por isso que temos os 12 signos conhecidos. Mas a versão que chega até nossos dias, tem origem na Grécia Antiga, por volta do século IV antes de cristo.  Os gregos adaptaram o zodíaco babilônico a sua realidade e a sua mitologia, renomeando alguns dos signos, batizando-os por Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.  São os helênicos que criam o termo horóscopo, que significa hora do observador ou do nascimento, ao associar a hora e o dia do nascimento do individuo com a posição da constelação zodiacal, premeditando seu destino, comportamento social, seu caráter, sua personalidade e alguns casos, até sua futura profissão, gerando assim os mapas astrais.

 

As práticas das adivinhações astrológicas ganham força no império romano, tendo seus imperadores seus próprios astrólogos, auxiliando nas decisões de batalhas e invasões que tornaram Roma, um dos maiores impérios do mundo e por tabela ajudaram a difundir pela Europa o conhecimento da Astrologia.

 

É de bom tom frisar que o mundo antigo não se resume somente à Europa, norte da África e Oriente Médio, pois os povos hindus, japoneses e mesmo os chineses também possuíam sua própria constelação zodiacal, tendo as mesmas funções tanto do uso para a agricultura, quanto para predições. Inclusive os anos no calendário chinês é divido pelos seguintes signos: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Cobra, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cachorro e Porco, tradição mantida até hoje.

 

Com a queda do império romano ocidental, no século V, e com ascensão do cristianismo, a prática das adivinhações zodiacais diminuiu na Europa por quase toda a idade média, ou seja, cerca de 1400 anos, voltando aos círculos de estudos nos anos finais do século XVI de nossa era. Porém, foi só no final do século XIX e início do XX que a Astrologia se populariza, principalmente no mundo ocidental, devido às publicações em jornais populares e mais tarde em programas de rádio e televisão.

 

Hoje, o mercado do ramo da Astrologia, movimenta mais de 2 bilhões de dólares ao redor do mundo, com a venda de produtos que vão de uma simples nota sobre o horóscopo em jornais, até consultas a astrólogos renomados, que custa alguns milhares de reais.

 

MAS A ASTROLOGIA FUNCIONA?

 

A resposta é: NÃO!

 

Não, pois a Astrologia é uma pseudociência, ou seja, uma ciência falsa, sem embasamento científico nenhum. Pois, para começar, as constelações, a Lua, o Sol e os planetas, estão numa distância muito, mais muito longa de nós para exercer qualquer tipo de influência em nossos corpos, psique e cotidiano.

 

A nossa estrela mãe, por exemplo, está a uma a 150.000.000 de km (cento e cinquenta milhões de quilômetros) de nós. Será que o Sol, ao aparecer no céu, vai olhar para você e dizer: “hum, hoje vou arrumar um amor para sua vida!”?; “Ah, vou fazer você perder o emprego”; “Hoje seu dia vai ser de transtornos, pois estou passando pelo signo de peixes, e vou fritar e infernizar você com ele”.

 

Infelizmente, Maria, Matheus e Sandra, fazem parte de uma grande parcela da população que julgam os demais seres humanos, assim como a eles mesmos, pelos signos a que pertencem. Triste! Pois você, leitor, já deve ter visto a história de uma pessoa que não pôde alugar um apartamento porque era do signo de Libra, outra que não conseguiu uma vaga de emprego, pois na entrevista informou que era de Virgem e da mãe que adiou ou adiantou o parto, pondo sua vida e de sua criança em risco, para nascer sob signo de Áries.

 

Não são estórias, são casos reais que você pode ver nos noticiários.

 

Acreditar em pseudociências é dar oportunidade para afiançar movimentos antivacinas, terraplanistas e também de curas e tratamentos milagrosos usando produtos da linha detox.

 

Eis que quando alguém me pergunta qual é meu signo respondo:

__Sou de Elefante, com ascendente em Pinguim!

__Mas, existe esses signos?

__ Não, nenhum existe ou funciona, nem os da Astrologia.

 

Obs: O que tem a ver o signo de Câncer com a doença?

Os médicos gregos notavam que certas doenças se ramificavam pelo corpo, como as patas de um caranguejo, que na língua grega é KARKINOS.



Prof. Manoel Pereira é formado em Licenciatura Plena em Física, na UEPB; tem especialização em ensino de Ciências, pela UNB; Mestre em Ensino de Astronomia, pela UEFS; além de trabalhar com divulgação científica através do canal do Youtube e Instagram Ser Tão Ciências.

Contato sertaociencias@gmail.com  Insta @sertaociencias  Facebook Ser Tão Ciências

 

Referências para a construção deste texto.

Falcão, Waldemar – A história da astrologia para quem tem pressa. 1º ed. Rio de Janeiro: Valentina;2019.

Mukherjee, S. - O imperador de todos os males: uma biografia do câncer. São Paulo: Companhia das Letras; 2012

 

https://espacoastrologico.com.br/2020/06/20/o-desenvolvimento-do-zodiaco-babilonico/

https://en.wikipedia.org/wiki/Horoscope

https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_astrology

https://en.wikipedia.org/wiki/Astrology#Greece_and_Rome

https://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_astrology