Rodrigo Gomes de Santana¹

Email: rodrigo.geo@usp.br 



Muito se discute sobre as potencialidades agrárias do município em Paulo Afonso, entretanto nunca criamos condições que pudessem trazer autonomia financeira às famílias camponesas do nosso município. Afinal quais são os gargalos que dificultam a possibilidade de haver um meio rural economicamente autônomo e que ofereça uma solidez econômica a Paulo Afonso?

Segundo o Censo Agropecuário de 2017, o município apresenta 2.463 estabelecimentos rurais ocupando uma área de 58.081 hectares, 72% destes estabelecimentos são propriedades familiares, no entanto, ocupam somente 36% da área total, nossa estrutura fundiária é concentrada que reflete na questão agrária brasileira. O Brasil representa um papel de protagonismo no agronegócio mundial, sua origem agrícola está pautada na Plantation – modelo de produção baseado na monocultura para a exportação que ocupava grandes áreas e era feita através do trabalho escravo – o agronegócio atual se faz da mesma forma (com exceção do trabalho escravo legal), ou seja, somos reféns do mesmo modelo produtivo implantado na colônia que nos coloca em uma posição de país de produção primária, dependente dos países industrializados.

Nossa cidade possui solos propícios a várias culturas agrícolas, temos uma boa disposição de água superficial e subterrânea em boa parte do meio rural que possibilita a criação um sistema de irrigação eficiente, mas não é o agronegócio o nosso “salvador”. A ideia de que temos uma vocação natural para o agronegócio é errada em vários pontos, o agronegócio irá criar uma concentração maior nas terras, acentuaria a especulação imobiliária, expropriaria os trabalhadores do campo e os fariam dependentes da prática, além de não oferecer um retorno financeiro substancial as famílias camponesas.

A alternativa mais eficiente em termos de retorno para os camponeses é a agricultura familiar, a prática é responsável por 70% de todo alimento que chega a nossa mesa, responde por 74% do pessoal ocupado, gera mais emprego, cria uma maior distribuição de renda e possibilita uma menor dependência dos camponeses ao espaço urbano (IBGE, 2017).

Então como fazer?

A meu ver a cidade nunca pensou em um plano de desenvolvimento agrário que seja articulado com políticas públicas municipais próprias, quase todos os investimentos e programas que atendem o nosso município são desenvolvidos pelo terceiro setor.

É necessário pensar em uma gestão agrária que seja articulada a criação de uma cadeia produtiva focada na agricultura familiar, a economia rural se faz em forma de espiral do menor para o maior, a criação de uma base com apoio de políticas municipais fortaleceria as famílias do campo.

Sistematicamente é indispensável criar infraestrutura para o acesso à água principalmente em terrenos em que não há água superficial; promover programas de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER com base de investimento municipal dando possibilidade de melhorar o manejo; oferecer um apoio maior a disseminação de programas como PAA e PNAE garantindo a venda da produção familiar; apoiar e incentivar a criação de cooperativas agrícolas eliminando a figura do atravessador e agregando um ganho maior a produção; criar mecanismos com base na educação contextualizada dos jovens camponeses promovendo uma maior organização da juventude camponesa; oferecer infraestrutura no meio rural de Paulo Afonso.

Os desafios são enormes para a construção de um espaço agrário no campo pauloafonsino, mas o maior deles é de fato fazer com que a classe política olhe para a população camponesa, no sentido de oferece soluções técnicas para a autonomia das famílias camponesas sem intencionalidades puramente eleitoreiras.

 


REFERÊNCIAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2017. Resultados Preliminares, Brasil, 2018. Disponível em:  <:https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/> Acesso em : jul. 2020.

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Relatório de Análise de Mercado de Terras 2017. Brasil. Bahia, 2018. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/sites/default/files/uploads/relatorios-analise-mercados-terras/sr-05-bahia/ramt_sr05_2018.pdf  > Acesso em: jul. 2020.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo capitalista de produção, agricultura e reforma agrária. 1 ed. São Paulo: FFLCH/Labur Edições, 2007.

SANTANA. Rodrigo Gomes de; ALMEIDA, Ricardo Santos de. . Os Desafios e as Possibilidades da Produção Campesina no Assentamento Maria Bonita em Delmiro Gouveia/AL. In: XXIII Encontro Nacional de Geografia Agrária, 2016, São zristóvão/SE. Anais do XXIII Encontro Nacional de Geografia Agrária, 2016.