Em quase 20 anos de profissão como docente, ensinando Física, em instituições publicas e em algumas particulares, sempre me deparei com a pergunta: “Professor, eu vou usar isso em quê ou aonde?”

Perguntinha que em muitas vezes, vem na tentativa de desqualificar um assunto ou conteúdo dado e em outras, da genuína curiosidade humana.

Quando eu era estudante no chamado 1ºgrau, que ia da 5º a 8º série, nos anos 80 do século passado, perguntar era quase que uma ofensa e por vezes motivo de ser posto para fora da sala. Lembro que uma vez fui questionar um professor sobre um determinado assunto e de pronto recebi um “o senhor pergunta demais”. Como bom e obediente aluno que era, me calei e por muito tempo fiquei sem fazer perguntas não só para este professor, como para outros. Ainda bem que esse quadro mudou quando eu fui cursar o 2ºgrau, ou ensino médio, na Escola Técnica Redentorista – Eter, em Campina Grande, estado da Paraíba. E para minha alegria, questionar não era problema. Lá os professores tinham a segurança de responder o que sabiam e a humildade de reconhecer quando não sabia.  Ao ingressar no ensino superior, já estava decidido que seria professor. E assim fiz e assim me tornei. Mas, não queria ser como aqueles professores que não permitem serem questionados, ao contrário, sempre estimulei meus alunos e alunas a perguntarem, sobre assuntos pertinentes aos conteúdos da matéria que ensino, Física, e afins.

 

Mas, “professor, para quê ou onde vou usar isso”?

 

Quando ensino  dilatação térmica, que é o fenômeno físico decorrente do aumento das dimensões de um corpo, causado pelo aumento de temperatura, mostro que os conhecimentos  deste assunto, nos ajuda a compreender porquê os fios nos postes são ligeiramente arqueados, dos trilhos das estradas de ferro são separados, das pontes possuírem separadores em sua estrutura, do aparecimento de estrias ou mesmo do corpo feminino “inchar”  na época da menstruação. Do contrário do dilatar, que é crescer, temos a contração térmica, que é encolhimento das dimensões de um corpo ou objeto, devido diminuição da temperatura. Sobre esse fenômeno os homens conhecem bem ao quando tomam banho frio.

 

Quando você observa um aparelho de ar-condicionado instalado próximo ao piso de um quarto, sala ou no vão de uma loja, uma pessoa tomando liquido gelado em copo de alumino e talheres de metal para se servir de comida quente em restaurantes self-service, tenha certeza que faltou conhecimento sobre o calor e suas formas de transmissão.

 

Sem as Leis de Newton não seria possível ir à Lua ou se quer entender que quando você nada, empurra a água, em contato com seu corpo, para trás, esta lhe dá uma reação, impelindo você para frente.

 

Graças as definições sobre energia potencial e cinética que temos em Paulo Afonso cinco usinas hidroelétricas, que aproveitam do potencial hídrico para transformar energia mecânica em elétrica, o mesmo acontecendo com os cata-ventos, mas usando o ar, que chamamos de energia eólica.

 

Já os fenômenos da ondulatória, vão lhe explicar porquê as estrelas bruxuleiam próximo ao horizonte e as mais afastadas não ou compreender que o uso exagerado de fones de ouvido pode acelerar o processo de ensurdecimento.

 

Ao abordar o espectro de ondas eletromagnéticas, mostro as faixas de frequências que podemos ver e as que não podemos enxergar, mas que também as usamos para transmitir sinais de rádio, de televisão, nos exames de raio-x e que as torres de transmissão de sinal de celular ou as de energia elétrica não causam câncer.

 

A escola, ainda é e sempre será, ambiente para se transmitir, adquirir, trocar, experimentar e construir conhecimentos.

Todas as matérias são importantes. o que torna os conteúdos pequenos tijolos, na formação da razão, do sentimento e da cognição, o que pode possibilitar a construção de um castelo, de um pequeno casebre ou mesmo ficar ao relento da vida.
Sim, alunas e alunos, perguntem! Sempre questionem para o quê ou aonde você pode aplicar os assuntos sejam abordados em sala.

 

Prof. Manoel Pereira é formado em Licenciatura Plena em Física, na UEPB; tem especialização em ensino de Ciências, pela UNB; Mestre em Ensino de Astronomia, pela UEFS; além de trabalhar com divulgação científica através do canal do Youtube e Instagram Ser Tão Ciências.

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