Chegamos ao século XXI, cheios de sonhos e expectativas a serem realizadas, graças aos avanços e desenvolvimentos tecnológicos da segunda metade do século XX, além de sermos alimentados por revistas em quadrinhos, livros, séries e filmes, mostrando um futuro próximo plausível de acontecer. Nessa trajetória, dos finais dos anos de 1940 pra cá, tivemos a criação do computador, as corridas espaciais e suas benesses para nosso cotidiano, a invenção do telefone móvel, a popularização dos televisores, aparelhos medicinais que permitiram exames mais minuciosos  e diagnósticos mais precisos, aumento na produção  na produção alimentícia e, talvez a mais impactante, a propagação da internet. Com tudo isso, estamos já no primeiro quinto do século, sendo testemunhas de pensamentos arcaicos, retrógrados e medievais, capitaneados grupos antivacinas, antidemocracia, anticiências, que conseguiram se articular e chegar ao poder público, em suas diversas camadas, desde da municipal, passando pela estadual, até ao cargo máximo da federação, usando quase que das mesmas táticas operacionais que os nazifascistas  usaram, para se instalarem no poder de suas respectivas nações.

O preço que a sociedade e a economia pagam por terem grupos negacionistas que propagam a desconstrução das ciências, da verdade e da distorção da realidade, é altíssima.

Vejamos:

1.      Segundo matéria na revista eletrônica Piauí1 de fevereiro de 2020, foram registrados, no ano de 2018, 10mil casos de sarampo e no ano de 2019, 16mil casos; sendo que entre os anos de 2002 e 2017, o país registrou um total de 1500 casos de sarampo. Qual o fator que mais contribuiu para o aumento desses números? Grupos antivacinas2!

2.       O instituto Datafolha3 expôs uma pesquisa, mostrando que cerca de 11 milhões de brasileiros acreditam que a Terra é plana. Esse grupo, chamado de terraplanistas, formado em sua ampla maioria por pessoas com baixo nível escolar e também muito ligadas a seguimentos religiosos, costumam a negar que o homem já foi à Lua ou se quer tenha ido ao espaço e que todas as imagens que temos no planeta, bem como as viagens espaciais, são montagens feitas pela Nasa. No que eles se apoiam para terem essa “certeza plana”? Da opinião que os próprios formulam, dos canais de Youtube, dos grupos de rede social, sem qualquer tipo de embasamento científico. Criando uma “ciência própria” que está acima da que é praticada há vários séculos, nas escolas e universidades do mundo.

3.       Desde do começo da pandemia causada pelo Covid-19, é dito e propagado que uma das formas de prevenir-se contra o vírus, é higienizar as mãos, usando álcool-gel ou álcool 70%. Mas eis que aparece um “químico autodidata” e fabricante de produtos de limpeza de fundo de quintal, nos grupos de WhatsApp, alardeando que a comunidade científica está errada. O correto, segundo ele, era usar vinagre para assear as mãos. Detalhe:  o uso do vinagre pode causar queimaduras.

4.       O presidente da república do Brasil, em um pronunciamento na data de 20 de março deste ano, classificou a pandemia que assola, como uma “gripezinha”4, além de defender um remédio que, segundo ele, prevenia contra corona vírus. Hoje, julho de 2020, a “gripezinha” já ceifou a vida de mais de 70mil brasileiros e o tal composto milagroso foi comprovado como ineficaz, como mostravam os estudos divulgados por médicos e cientistas.

Vou usar apenas esses 4 exemplos para dar a noção de como que o revisionismo e o negacionismo podem nos ser prejudicial a médio e longo prazo.

O custo pago pelos países que entraram no regime nazifascista foi altíssimo, que culminou numa guerra bélica que foi paga com a vida de milhões de pessoas em todo mundo.

Aqui, vivemos outra guerra: a das falsas informações e da distorção do que é verdade, causando o caos e a morte de milhares de brasileiros.

Se Eric Hobsbawm chamou o século XX de “A era dos extremos”, que título poderemos dar a essa centúria em que vivemos?

 

Prof. Manoel Pereira é formado em Licenciatura Plena em Física, na UEPB; tem especialização em ensino de Ciências, pela UNB; Mestre em Ensino de Astronomia, pela UEFS; além de trabalhar com divulgação científica através do canal do Youtube e Instagram Ser Tão Ciências.

Contato sertaociencias@gmail.com

            Insta @sertaociencias

            Facebook Ser Tão Ciências

 

 

Referencias

1 https://piaui.folha.uol.com.br/mais-contagioso-que-o-coronavirus/

2 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49346963

3 https://gazetaweb.globo.com/portal/noticia/2020/02/_98558.php

4 https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/03/20/gripezinha-menosprezo-de-bolsonaro-por-coronavirus-o-tornou-cumplice.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996