PAULO
AFONSO E O LOCKDOWN “PARA PATRÃO VER”.
Por: João Victor
Santos1
Essa
semana, diante do número alto e exponencial do aparecimento de casos do novo coronavírus,
o Prefeito de Paulo Afonso, Luiz de Deus decretou um lockdown nos dias 13, 14,
15, 16 e 17 de junho. Essa prática não é nova. Várias vezes durante a pandemia
pauloafonsina, desde a reabertura do comércio, o prefeito tem feito fechamentos
temporários.
A
reabertura do comércio, em abril, aconteceu numa estrada ladrilhada de casos
crescentes e de casos suspeitos. Essa estrada é toda decorada com uma lentidão
surpreendente para resultados de testes, bem como a falta de iniciativas
municipais para testagens mais rápidas e amplas. A testagem em massa não é uma
iniciativa que virá somente do governo do Estado ou do Governo federal (mesmo
que ambos estejam negligenciando essa demanda e tenham culpa no cartório). A
prefeitura já deveria estar providenciando uma ampliação de testes.
Desde
a reabertura do comércio, tivemos um número relativa e constantemente alto de
casos suspeitos. Nossa quarentena nunca
contou com a prefeitura para garantir que o povo de Paulo Afonso a ficasse em
casa. Calçadas cheias, jogos de futebol em quadras públicas, sem contar com as
aglomerações ao ar livre para exercícios físicos. Isso se combinou com uma
reabertura rápida do comércio e com a falta de iniciativa do Prefeito que
abraçou a posição genocida do governo Bolsonaro e não barrou a reabertura de
salões e igrejas. Podemos estar vivendo agora um presente bem próximo de um
futuro difícil para nossa cidade. Ou seja, é a versão local do desastre
nacional.
Diante
de uma previsão comum a todos que contemporizam ante uma pandemia como essas,
estamos arriscando viver dias difíceis para uma cidade que tinha e tem todas as
condições para evitar sofrer. Pois bem, contra um aumento de casos resultado de
um período logo que se encubou desde a abertura do comércio meses atrás, o
prefeito propõe quarentena a conta gotas, é a quarentena homeopática. Não é
ignorância é posição política.
É
válido também refletirmos sobre os dias do “lockdown”. Parte do último
fechamento aconteceu em dias de feriado ou mesmo final de semana, cuja
circulação de pessoas já é baixa e as áreas de serviço e lazer que costumam
aglutinar pessoas já estão fechadas. Esse fechamento do decreto 5.976/2020, por
exemplo, tem dois dias no final de semana. É uma questão de lógica básica: não
se pode conter o espalhamento de um vírus que passa meses fazendo a festa nos
comércios abertos, supermercados lotados e feiras a pleno vapor, com poucos
dias fechamento (seja final de semana ou não). É similar a querer parar um
câncer de pulmão em metástase, parando de fumar por uma noite. Por que será
então que esse decreto fecha por tão pouco tempo e destoa da lógica mais
simples?
O
executivo de Paulo Afonso está seguindo a cartilha de Bolsonaro. Não nos
enganemos. Desde o começo da “quarentena” Paulo Afonso fez um confinamento
deformado e frouxo. Não demorou muito e o prefeito cedeu à pressão do comércio
que é a principal força econômica. Vale lembrar que o Prefeito realizou
diversas reuniões exclusivas com os patrões. O fechamento do decreto
5.976/2020, por exemplo, saiu após reunião entre o Executivo e a Câmara de
Dirigentes Lojistas de Paulo Afonso (CDL), Sindicato Patronal de Paulo Afonso
(SINPA) e a Associação Comercial de Paulo Afonso (ASCOPA). O patronato tem sido
elemento constante nas reuniões, e por consequente, força influenciadora nas
decisões do executivo municipal. Em contrapartida, a prefeitura criou
instrumentos parcos para dialogar com a população. Por dialogar não quero dizer
“orientar sobre como se comportar depois das decisões serem tomadas”. Quero
dizer consultar a população, já que seus patrões estão sendo ouvidos.
Nossa
hipótese é que, uma vez sendo o patronato pauloafonsino força capaz de disputar
diretamente as posições da prefeitura, esse fechamento de só cinco dias, quando
claramente deveríamos fechar por mais tempo, não é um erro de cálculo, mas uma
política sanitária que segue a lógica do lucro e os anseios da elite
comerciante de P.A. É lockdown para patrão ver.
Resta
a você, trabalhador e trabalhadora de Paulo Afonso, se perguntar: quando os
políticos fazem esses cálculos políticos, quando fazem essas estratégias, com
quais fichas eles apostam? É com a sua vida. É hora de não mais permitir, nem
que o genocida do Bolsonaro destrua nossas vidas, nem dialogar ou flertar com
aqueles que surfam sua onda irresponsável e antipovo subserviente aos patrões.
#testagem em massa;
#por ferramentas
concretas de escuta política da população;
#por um fechamento com
tempo que condiga com os dados e potencial de contaminação em nossa cidade;
#por um espaço de diálogo
entre o executivo e o conjunto das entidades representativas dos trabalhadores
de Paulo Afonso;
#Por um comitê sindical
de quarentena das entidades sindicais e políticas da classe trabalhadora do
campo e da cidade;
#Por uma fiscalização
mais expansiva sobre a quarentena da população nas ruas e bairros;
[1] Historiador,
mestre em História, pesquisador do Laboratório de História, Memória das Lutas
Sociais e da Esquerda, militante do Movimento por uma Universidade Popular e
militante do PCB. (@johnn_vic e @avia_camarada).